19 de out. de 2012

OS CAMINHOS DA DOUTRINA DO AMANHECER



Os Caminhos da Doutrina do Amanhecer Salve Deus! Meus filhos jaguares: Explica-se a diferença entre a velha estrada e o novo caminho. A velha estrada é cheia de medo, de temor a Deus. A velha estrada foi palmilhada por mil pessoas, mil teorias sempre escrita e nunca praticada, enquanto o caminho foi traçado pelo suor, pela própria energia de quem o escreveu e vive a emitir com tanto amor. Vamos sentir o caminho do Amanhecer sem superstição e sem as teorias dos pensadores, pela vivência na prática, na execução desta doutrina e seus fenômenos extra sensoriais. No respeito da dor alheia, no carinho dos humildes, no afeto das ninfas, no progresso e na compreensão de nossa família. Este é o caminho traçado para o homem na doutrina do amanhecer. Quem diria que naquela era distante, os Enoques levassem tão alto esta filosofia, esta corrente. Sim, Pai João o mais velho, observava com mais precisão o desenrolar das vidas nos carmas. Suas preocupações aumentavam, enquanto Pai Zé Pedro filosofava, reclamando de vez em quando. Os dias passavam sem qualquer anormalidade, isto é, sempre com fenômenos que ali já eram corriqueiros. Porém só Deus sabia como e aonde chegaria. Dias alegres, dias menos alegres, porém sempre em harmonia até que as forças foram materializando e tudo começou a ser mais verdadeiro, mais preciso. Pai João se inebriava com todos aqueles fenômenos e estava sempre a espreita dos mínimos acontecimentos, cochilando sempre debaixo de uma pequena árvore. O pequeno arraial estava tranqüilo quando Pai João, em um de seus cochilos, viu um finíssimo fio magnético entrando em uma das cabanas e, ao mesmo tempo, ouviu o grito desesperado de alguém que fora atingido. Era fenômeno mediúnico puramente espiritual. Era a jovem Iracema que rolava de dor na espinha, como se tivesse levado uma pancada. Pai João correu e fez uma elevação tirando-lhe a dor. Começou então a pensar que ele nada havia enxergado e, no entanto tinha certeza de ter visto aquele fio saindo da cabana do feitor. Chamou Pai Zé Pedro, contou o que vira e os dois começaram a ter medo da situação. Nisto Jurema manifestada por um caboclo, começou a dizer: - Meus filhos! Tomem cuidado, este feitor é o instrumento feliz de evolução. O pobre infeliz vive ainda pelas mãos caridosas de Sinhá Sabina. O fenômeno foi visto por vosmicê João, para que tome cuidado. – Como. Perguntou Pai João. Ele vai entrando em transe e sua alma ruim, odiosa, pega a quem ele mais ama ou odeia. Salve Deus! – Disseram todos de uma vez. – E eu que pensava que somente os desencarnados atuavam... – Sim – continuou o caboclo. Estão em uma jornada para o desenvolvimento e até que passe todo o carma da escravidão. O homem será feliz quando houver a libertação, disse Pai Zé Pedro. Não, continuou o caboclo, o homem jamais se libertará, e dizendo isso deixou Jurema e se foi. Todos ficaram sem entender nada. Jurema entendeu e saiu correndo dali para a cabana do feitor, decidida a falar com ele e dizendo que iria matá-lo, quando Pai João interferiu dizendo: - Jurema, a concepção da morte resulta de um entendimento da vida completamente errado, porque na verdade ela jamais existiu. O espírito não morre, então irá mil vezes nos atentar. Matando-o, ele ficará mais leve, mais sutil. Todos os que se perdem pelo pensamento e se enchem de ódio ao serem desencarnados e no astral inferior evidente, voltam sendo mais comuns as suas crises furiosas. Vamos Jurema, tentar doutrina-lo antes que morra e se torne invisível aos nossos olhos. Chegando à cabana do feitor, ele estava esticado numa cama de varas e capim. Sabina veio ao encontro sorridente e o feitor começou a espraguejar e Pai João a lhe fazer doutrina, porém com medo de Jurema que observava com seus olhos verdes amendoados, disse escapando dos seus lábios: - Pobre imperador! Viestes com tão nobre missão, no entanto eis o que restou. Pensa Eufrásio no que te digo. Vou levar Jurema e voltarei. O dia estava terminando, quando Pai Zé Pedro e Pai João se encontraram e se entenderam. Pai Zé Pedro deslumbrado ficava repetindo: - Irradiação dos encarnados se desprende do corpo e se manifesta com a mesma leveza do espírito dos mortos, repetia. Nisto um grito e em seguida, gargalhadas. Pai Zacarias caira na cachoeira e estava molhado, porém nada lhe havia acontecido, senão o susto. Coisa desta espécie acontecia sempre. Sim, esta alegria durou pouco, chegou o feitor da fazenda onde Juremá vivia. Todos se assustaram com o visitante. Ele chegou arrogante e já ia pegando Juremá, quando Tomaz gritou: - Larga porco imundo, aqui é diferente! Nem tente, porque você vai morrer. O feitor esporeou o cavalo e marchou para cima de Tomaz, que num minuto já estava por cima esmagando o seu estômago. Quando Pai Zé Pedro e Pai João chegaram era tarde demais. Tomaz já estava morto. Os gritos de todos faziam terror naquele lugar. O feitor foi fugindo, levando Juremá. Era grande demais aquela dor, ninguém se lembra do feitor assassino e nem de Juremá. A morte de Tomaz veio trazer tanta tristeza, que mudou a sintonia do lugar. Os nagôs não falavam e não cantaram mais, nas fogueiras riam algumas vezes, porém continuava a harmonia. Começou então os projetos para buscar Juremá. Tomaz fora quase criado com Pai Zé Pedro. Três Nagôs que muito amavam Pai Zé Pedro, resolveram buscar Juremá e calados sem que ninguém soubesse,fizeram uma matula na mochila e lá se foram sem os outros saber. Jurema viu na sua vidência. Pai João sentiu tudo, porem todos se fizeram de desentendidos e ninguém impediu os três Nagôs. Jurema não olhava Pai João e nem Pai Zé Pedro, ainda viviam o espírito de vingança pelo seu querido Tomaz. Realmente! Chegaram Joaquim e Cassiano com Juremá. Novamente o reboliço. Juremá não falava, perdera a voz. Todos queriam saber o que houvera, porém ninguém dizia nada e também ninguém tinha coragem de perguntar nada. Todos em volta da fogueira e só se ouvia o murmúrio da cachoeira. Ninguém tinha mesmo coragem de quebrar aquele silêncio. De repente Jurema deu uma risada e Janaína foi para perto e as duas se abraçaram, porém Jurema com uma atitude que não era dela. Salve Deus! E chegando Joaquim e Cassiano: - Porque fizeram isto? Mataram o feitor e o seu sinhozinho. Isso não é de um filho de Deus que esta a caminho. Terás que voltar e receber como filho o feitor e tu Cassiano, terás o teu sinhozinho também. A estas alturas Cassiano e Joaquim já sabiam o que Jurema queria dizer. – Me perdoe bom espírito, disse Joaquim; porém aquele malvado matou o nosso Tomaz com sua covardia. Cassiano perguntou também se poderia continuar vivendo ali. – Sim, disse o espírito em Jurema. Deus não tem pressa. Cada um aqui assumirá a sentença ou libertação. Jurema enchia de cuidados por Juremá. Tão logo terminou a incorporação, cada um voltou a seu estado de alma. Uns foram dormir, outros ficaram ali na fogueira, até novos gritos. Meu Deus! Novamente o fio magnético. Novamente Iracema atingida pelo feitor Eufrásio. Tudo de novo, correrias até que Pai João liquidou com uma elevação, porém não antes de muito trabalho. Os dias decorreram e notava-se que Iracema cada dia ficava mais pálida, com ar de doente, tudo ia de mal a pior. Certo dia fizeram uma vidência para saber o que deveriam fazer com a pobrezinha, vovó Cambina, vinda da Bahia para tirar o quebrante dos filhos da sinhá. Estando na sessão naquela noite, preferiu seguir os seus irmãos naquela jornada. Vovó Cambina da Bahia rezou, Iracema com seus passes magnéticos foi melhorando e da maneira que ia se fortalecendo, ia também adquirindo forças para repelir. A estas alturas as coisas já haviam tomado um vulto muito sério. Ninguém se lembrava mais de Tomaz, toda concentração agora era no feitor Eufrásio. Faze-lo seu amigo, antes que ele os atingisse. Sim, Pai João explicou que se doutrinassem ele deixaria de atacar com seu magnético. O feitor passou a ter constantes visitas e realmente foi melhorando, a ponto de chegar a pedir perdão muitas vezes. Eufrásio passou a ser o confidente daquele povo. Sim, Eufrásio fora um grande senhor que perdera a sua fortuna e família no jogo e fora obrigado a tomar aquele lugar do feitor naquela fazenda da tragédia. Mais uma vez o homem se liberta por si mesmo. Pai João e Pai Zé Pedro estavam sempre a ensinar a sua doutrina, seu amor e ele ensinava também o que sabia dos seus mundos de onde andara. Vovó Cambina da Bahia lhe rezava todos os dias e a vida apesar de sua harmonia, só agora voltava ao normal das entoadas das fogueiras alegres. Estavam todos sentados, quando ouviram um barulho no mato, como se fosse uma boiada disparada quebrando tudo. Cada um carregou suas espingardas e se entrincheiraram. Eram porcos selvagens, porém passaram por fora e os Nagôs ainda mataram mais de vinte, fazendo fartura de carne. Pai Juvêncio e Zefa eram os únicos que tinham coragem de ir até um lugarejo por nome Abóbora. Chegando na entrada da cidadezinha, viu uma menina nos braços da mãe meio desacordada. Chamou Zefa, cochicharam nos ouvidos e benzeram a menina, isto é, tirou o espírito e a mesma ficou boa. Tânia, a mãe da menina deu algumas frutas como pagamento e se desculpando por não ter mais nada. Juvêncio e Zefa comeram as frutas, trataram dos negócios e se encaminharam para casa. Felizes chegaram em casa, porém quando pisaram a soleira da sua porta deu uma enorme dor. As barrigas começaram a doer, doer a ponto de chamar Vovó Cambina da Bahia. Nada fazia passar, uma porção de conjecturas. Seria veneno? Porém as desinterias pioravam e por incrível, eram os dois. – Pobrezinhos, dizia Pai João. Resolveram tantas coisas boas para nós! Deve ser provação, Deus testando seus corações. Todos já estavam na fogueira e queriam notícias. Nisto Jurema que estava ao lado de Pai Zé Pedro, se levantou bruscamente, apontando para os dois que estavam abaixadinhos na roda da fogueira, gemendo de dor. Disse: - Eles comeram prenda, ganho pela sua caridade. – Como? Disse Pai João. Pena Branca não quer que a gente ganhe nada em troco do que faz. Sim, Vô Agripino também disse: - Agente só aprende com o espinho na carne fincando. É Pai João, todos nós temos um espinho na carne. – Oh meu Deus! Gritaram de uma só vez. Sim, estamos conscientes. Graças a Deus, Vó Cambina já estava chegando com a cuia de chá e eles após tomarem, contaram o que havia passado, todos abraçaram os dois por sua ação. Sim, era coro. Juvêncio e Zefa comeram prenda da caridade que fizeram. Sim, receberam pagamento e o Pena Branca não gosta nem de presente nem que cobre. Zefa e Juvêncio ainda passaram mais uns três dias de dor de barriga. Tudo foi alegre e passou. Eufrásio, que agora era conselheiro do grupo achou também muito importante. Primeiro as frutas que Pena Branca não aceita paga pelo seu trabalho mediúnico e segundo a denúncia de Jurema que em sua clarividência viu o que se passou. O pobre casal fora lesado pelas suas mentes preguiçosas. Tudo estava espiritualmente pronto. Pai Zé Pedro e Pai João se regozijavam da situação. Zé Pedro sempre perguntava: -O que será de nós? Aonde iremos? O que será de nós? Não seria melhor sairmos, em vez de esperar o mundo aqui? Eu já não suporto mais. Oh! Meu Deus! – Zé Pedro! Quando o celeiro está pronto, o mestre aparece, palavras de Vô Agripino; disse Pai João. Pai Zé Pedro, Pai Lourenço, Pai Francisco e muitos outros dos setenta membros daquele grupo estavam inquietos, exceto Pai João e Eufrásio o feitor, que firmes em Vovô Agripino estavam calados. Nesta manhã Jurema avisou a Pai Zé Pedro que chegaria muita gente para curar. Os Nagôs se reuniram e se entrincheiraram para recebê-los. Sim, já estavam ali há dois anos. – Lá vêm eles, lá vêm eles. Lá embaixo, lá vinha uma enorme fila, só se ouvia gente correr para esperar os chegantes. Zefa e Juvêncio reconheceram a mulher da menina e gritou: - Jurema, Pai João, Pai Zé Pedro, são gente em busca da caridade. E perguntando baixinho a Pai João: - Não tem perigo da minha barriga doer? – Não, respondeu Pai João. Foram chegando e enchendo o ambiente. Que maravilha, todos estavam felizes, a felicidade do missionário de Deus! Foi lindo. Suas curas desobsessivas, o amor, a dedicação de toda aquela gente. Meu filho, eu gostaria de contar mais desta história. Porém Manoelzinho, 7º Raio do Adjunto Yucatã não deixa, porque ele é também um personagem da cachoeira do Jaguar. E voce meu filho, procure se encontrar também. Com carinho, a Mãe em Cristo. Tia Neiva. Vale do Amanhecer, 07-03-80.